A Igreja dedica o mês de julho à
devoção do preciosíssimo Sangue de Cristo, derramado pelo perdão dos nossos
pecados. Depois de meditar longamente sobre o Coração misericordioso de Jesus,
no mês de junho, a mãe Igreja deseja que veneremos profundamente o preciosíssimo
Sangue do Senhor.
Os judeus celebravam diariamente o
“holocausto perpétuo”, dois cordeirinhos sem defeito eram imolados às seis
horas da manhã e às seis da tarde, afim de que o sangue do cordeiro oferecido a
Deus obtivesse o perdão dos pecados do povo naquele dia. Esse cordeiro era
apenas um sinal, uma prefiguração do verdadeiro Cordeiro que seria imolado na
Cruz.
São João Batista o apresentou ao
mundo dizendo: “Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29).
Sem o Sangue desse Cordeiro não há salvação. O Sangue precioso de Cristo foi
prefigurado também naquele sangue do cordeiro pascal que os judeus colocaram
nos umbrais das portas de suas casas, no dia da Páscoa, na saída do Egito, para
que o anjo exterminador nenhum mal fizesse ao primogênito daquela casa. É sinal
do Sangue do Cristo que nos protege de todos os males do corpo e da alma.
A devoção ao preciosíssimo Sangue de
Jesus sempre esteve presente na Igreja desde o início e sempre aumentou através
de solenidades, orações, escritos dos papas, e uma Ladainha
para pedir a Deus perdão dos pecados e afastar de nós os males do corpo e
da alma.
São Gaspar de Búfalo propagou
fortemente esta devoção, tendo a aprovação da Santa Sé; por isso, é
chamado de o “Apóstolo do Preciosíssimo Sangue”. O Papa Bento XIV (1740-1748)
ordenou a missa e o ofício em honra ao Sangue de Jesus, que foi estendida à Igreja
Universal por decreto do Papa Pio IX (1846-1878). O santo foi o fundador da
Congregação dos Missionários do Preciosíssimo Sangue – CPPS, em 1815. Nasceu em
Roma aos 06 de Janeiro de 1786.
O Papa João XXIII (1958-1963)
escreveu a Carta Apostólica “Inde a Primis”, sobre o preciosíssimo Sangue de
Cristo, a fim de promover o seu culto, o que foi lembrado pelo Papa João Paulo
II em sua Carta Apostólica “Angelus Domini”, onde repetiu o que João XXIII
disse sobre o valor infinito do Sangue de Cristo, do qual “uma só gota pode
salvar o mundo inteiro de qualquer culpa”.
O Sangue de Cristo representa a Sua
Vida humana e divina, de valor infinito, oferecida à Justiça divina para o
perdão dos pecados de todos os homens de todos os tempos e lugares. Quem for
batizado e crer, como disse Jesus, será salvo (Mc 16,16) pelo Sangue de Cristo.
“Isto é meu sangue, o sangue da Nova
Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados” (Mt 26, 28).
Em cada Santa Missa a Igreja renova,
presentifica, atualiza e eterniza este Sacrifício expiatório pela Redenção da
humanidade. Em média, a cada quatro segundos essa oferta divina sobe ao Céu em
todo o mundo.
O Catecismo da Igreja ensina que:
“Nenhum homem, ainda que o mais santo, tinha condições de tomar sobre si os
pecados de todos os homens e de oferecer-se em sacrifício por todos” (§616);
para isso era preciso um sacrifício humano, mas de valor infinito. Só Deus
poderia oferecer este sacrifício; então, o Verbo divino, dignou-se assumir a
nossa natureza humana, para oferecer a Deus um sacrifício de valor infinito. A
majestade de Deus é infinita; e foi ofendida pelos pecados dos homens. Logo, só
um sacrifício de valor infinito poderia restabelecer a paz entre a humanidade e
Deus.
São Pedro ensina que fomos resgatados
pelo Sangue do Cordeiro de Deus mediante “a aspersão do seu sangue” (1Pe 1, 2).
“Porque vós sabeis que não é por bens perecíveis, como a prata e o ouro, que
tendes sido resgatados da vossa vã maneira de viver, recebida por tradição de
vossos pais, mas pelo precioso Sangue de Cristo, o Cordeiro imaculado e sem
defeito algum, aquele que foi predestinado antes da criação do mundo.” (1Pe
1,19).
Assim, o Sangue do Senhor nos
libertou do pecado, da morte eterna e da escravidão do demônio. São Paulo diz:
“Portanto, muito mais agora, que estamos justificados pelo seu sangue, seremos
por ele salvos da ira” (Rm 5,9). Por seu Sangue Cristo nos reconciliou com
Deus: “por seu intermédio reconciliou consigo todas as criaturas, por
intermédio daquele que, ao preço do próprio sangue na cruz, restabeleceu a paz
a tudo quanto existe na terra e nos céus” (Cl 1,20).
Com o seu Sangue Cristo nos resgatou,
nos comprou, nos fez um povo Seu: “Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho
sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastorear a Igreja de
Deus, que ele adquiriu com o seu próprio sangue”(At 20,29). “Por esse motivo,
irmãos, temos ampla confiança de poder entrar no santuário eterno, em virtude
do sangue de Jesus” (Hb 10,19).
“Cantavam um cântico novo, dizendo:
Tu és digno de receber o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste imolado e
resgataste para Deus, ao preço de teu sangue, homens de toda tribo, língua,
povo e raça; (Ap 5,9)
Hoje esse Sangue redentor de Cristo
está à nossa disposição de muitas maneiras. Em primeiro lugar pela fé; somos
justificados por esse Sangue ensina S. Paulo: “Mas eis aqui uma prova brilhante
de amor de Deus por nós: quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós.
Portanto, muito mais agora, que estamos justificados pelo seu Sangue, seremos
por ele salvos da ira” (Rm 5, 8-9). “Nesse Filho, pelo seu sangue, temos a
Redenção, a remissão dos pecados, segundo as riquezas da sua graça” (Ef 1,7).
Este Sangue redentor está à nossa
disposição também no Sacramento da Confissão; pelo ministério da Igreja e dos
sacerdotes o Cristo nos perdoa dos pecados e lava a nossa alma com o seu
precioso Sangue. Infelizmente muitos católicos ainda não entenderam a
profundidade deste Sacramento e fogem dele por falta de fé ou de humildade. O
Sangue de Cristo perdoa os nossos pecados na Confissão e cura as nossas
enfermidades espirituais e psicológicas.
Este Sangue está presente na
Eucaristia: Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus. “O cálice de bênção, que
benzemos, não é a comunhão do sangue de Cristo? E o pão, que partimos, não é a
comunhão do corpo de Cristo?.. Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou
também o cálice, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; todas as
vezes que o beberdes, fazei-o em memória de mim. Portanto, todo aquele que comer
o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do corpo e do
sangue do Senhor ” (1 Cor 10,16-27).
Na Comunhão podemos ser lavados e
inebriados pelo Sangue redentor do Cordeiro sem mancha que veio tirar o pecado
de nossa alma. Mas é preciso parar para adorá-lo no Seu Corpo dado a nós.
Infelizmente muitos ainda comungam mal, com pressa, sem Ação de Graças, sem
permitir que o Sangue Real e divino lave a alma pecadora e doente.
“Em verdade, em verdade vos digo: se
não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis
a vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida
eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é
verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida. Quem
come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo
6,53-56).
É pela força do sangue de Cristo que
os santos e os mártires deram testemunho de sua fé e chegaram ao céu: “Meu
Senhor, tu o sabes. E ele me disse: Esses são os sobreviventes da grande
tribulação; lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Ap
7,14).“Estes venceram-no por causa do sangue do Cordeiro e de seu eloqüente
testemunho. Desprezaram a vida até aceitar a morte” (Ap 12, 11).
É pelo Sangue derramado que Ele venceu
e se tornou Rei e Senhor: “Está vestido com um manto tinto de sangue, e o seu
nome é Verbo de Deus… Um nome está escrito sobre o seu manto: Rei dos reis e
Senhor dos Senhores” (Ap 19,13-16).
Prof. Felipe Aquino
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