Na sociedade dos perfeitos, ser
imperfeito está fora de moda. Ao ligarmos a televisão ou acessarmos a internet,
encontramos protótipos de pessoas perfeitas. Seres humanos imperfeitos
maquiados com aparência sagrada. Uma forte tendência dos tempos atuais é a
exigência de que o outro seja perfeito. Esta marca de nossa época vem
disfarçada com o nome de “falta de paciência”: “Não tenho paciência com as
pessoas de minha família”, “Sou extremamente impaciente com meus colegas de
trabalho”, “Meus pais não são do jeito que eu quero”... Frases como estas são
mais comuns do que ousamos imaginar.
Exige-se a perfeição do outro a
qualquer custo. Pessoas que se consideram perfeitas exigem que seus irmãos e
irmãs também o sejam. Caso isso não ocorra, as brigas e decepções acontecem em
níveis agressivos.
No tempo de Jesus não era diferente.
Os fariseus, escribas e mestres da Lei, responsáveis pelo cuidado do templo e,
consequentemente, pela formação religiosa do povo, consideravam-se perfeitos.
Julgavam ter atingido um grau de plenitude tal que se achavam no direito de
catalogar as impurezas do povo de acordo com normas e critérios religiosos que
oprimiam o ser humano.
Jesus percebeu a hipocrisia contida
nos gestos e atitudes destes pretensos perfeitos. Estes exigiam que os fiéis
carregassem pesados fardos e cumprissem normas que beneficiavam apenas a eles
próprios.
Aqueles que exigem
perfeição dos outros se esquecem de que também são imperfeitos. Muitas vezes
exigem algo que nem eles próprios conseguem cumprir. Ocupam, inconscientemente,
o lugar de Deus. Tornam-se juízes: julgam, condenam e decretam a sentença. O
outro, raras vezes, tem a chance de defesa, tendo em vista que, na maioria dos
casos, o julgamento vem embrulhado em presentes perfeitos.
Quando falamos de imperfeição
entramos em contato com nossas próprias imperfeições. Esbarramos em nossos
próprios limites e falhas. Uma atitude farisaica descarta a imperfeição e se
reconhece canonizado. Os grandes santos nunca se consideraram santos em vida. O
que os tornou santos foi a humildade com que se revestiram. Reconciliados com
sua própria humanidade, estes homens e mulheres que hoje são venerados nos
altares, transformaram as imperfeições em degraus para a santidade. No pecado
que estava impresso em seu DNA humano, eles se revestiram da força de Cristo.
Viram no Mestre o caminho para a humildade, o serviço e a doação ao próximo.
Respeitar o processo de caminhada de
cada pessoa é fundamental para quem deseja construir hoje seu caminho de
santidade. Quem não aprendeu a respeitar as imperfeições do outro, dificilmente
irá conhecer o caminho da humildade que o guiará à paz interior.
Jesus compreendia as imperfeições
humanas. Ele sabia que a natureza que nos reveste precisava ser purificada não
por rituais de exclusão, mas sim por rituais de inclusão. Cristo incluía no Seu
amor os excluídos do amor dos outros.
Somente quem compreendeu que tão
imperfeito quanto o outro é ele mesmo, descobriu o caminho para o amor e a
santidade manifestada no cotidiano dos sentimentos.
Padre Flávio
Sobreiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário